segunda-feira, 30 de abril de 2012

Terceira aula (16/03/12)



  • Atividade: relacionar um conceito de currículo com a poesia 

Currículo está relacionado com o conceito de caminho. Só existe currículo quando há um caminho, quando há mudanças, direcionamentos de novos planos, de tombos e levantos, sempre levando pedaços daquilo que vimos e vivemos. Mas aonde caminhamos? Na escola? Na sociedade? Na cultura? Na história? Na política? Na religião? Já sei! Na nossa casa, na aula de natação, na sala de aula, ou melhor, no recreio escolar, especialmente quando estamos falando de situações mal intencionadas de determinados discentes. A concepção de currículo é tão ampla! Da mesma amplitude que os vários sentidos que traduzimos para o ato de caminhar exemplificado anteriormente. No entanto, com o andar, novas paisagens são desvendadas, surgem novas opções, novos problemas, novos acertos e resultados, novas pessoas e novos alunos. É disso que o currículo deve se preocupar, sempre resgatar a essência de seu caminhar.  

  Pontos discutidos em aula

O currículo deve considerar o sujeito em sua historicidade- contextualização histórica. Temos inúmeros marcos políticos que influenciaram o currículo, como por exemplo, a guerra fria, o período da ditadura militar etc. Para considerar a historicidade do sujeito no currículo, devemos ter em mente uma concepção ampliada do mesmo, que não se restringe somente ao prescrito oficialmente, mas está em intima interação com o currículo vivido e o oculto. Isso quer dizer que o currículo, em cada contexto histórico, se preocupa em legitimar um discurso que subentende homogeneizar uma cultura considera como ideal para este contexto. No entanto, quando tais conteúdos prescritos oficialmente são transpostos pelos professores aos alunos, entra em cena o currículo vivido e o currículo oculto. Em qual desses três tipos de currículo se considera a historicidade do sujeito? O prescrito oficialmente considera a historicidade do sujeito de uma forma mais implícita ao propor tal cultura homogênea e genérica. Mas, o currículo vivenciado e o oculto resgatam a práxis do currículo cuja cultura e visão de mundo transmitida está muito centrado no professor que subjetiva o conhecimento transposto. 
Ideologia-Currículo como aparelho ideológico do Estado. Leitura parcial ou superficial que busca justificar a realidade pela aparência. 
Neste tópico, houve uma discussão interessante sobre o conceito de ideologia e como tal conceito abarca nossa vivencia de um modo geral, não direcionada somente ao currículo. Houve primeiramente uma indagação sobre o que é ideologia, sobre os muitos significados que este termo traz. Toda intencionalidade está relacionada a uma base, um fundamento e uma ideologia. 
A ideologia implica no estudo da idéias e representa, de início, algo distante da realidade, uma utopia que escapa à realidade. Marx remete à ideologia como maquiagem da realidade para perpetuar a hegemonia de uma classe dominante, uma leitura superficial da mesma. Nesse sentido, a realidade é justificada pela aparência. Mas é possível não sermos ideológicos? Sempre haverá uma ideologia que justifique uma determinada realidade, até porque somos nós que dotamos esta realidade de significados. Com a atividade docente também não é diferente. Nas escolas, os professores, diretores e coordenadores pedagógicos, por exemplo, pautam-se em várias ideologias para justificar regulamentos, regras, questões morais, gerenciamento de conflitos, questões do ensino relacionadas ao mercado de trabalho ou ao vestibular etc. Quais ideologias passamos para os alunos através da linguagem? Linguagem não  restrita somente à oralidade, mas também a expressões tanto conscientes como inconscientes, intencionais e não intencionais. Será que temos uma postura diagnóstica para reconhecer e desmistificar ideologias que "alienam" os alunos, ou até mesmo nós professores? Paulo Freie já mencionava numa educação para a libertação. Desmistificar ideologias não seria uma forma de libertação?
Quando o currículo se torna público, é por si justificado por uma ideologia que está intimamente relacionada ao seu contexto sócio-histórico. De que forma o professor, que tem em suas mãos o currículo vivido e oculto, participa da construção de ideologias do currículo prescrito oficialmente? Porque há essa grande divergência?   
Currículo: discurso que reflete práticas advindas de políticas públicas tendo como as dimensões: individual e coletiva. 
Esta questão do individual e coletivo é bem interessante. O currículo oficial idealiza um aluno genérico, coletivo, ou seja, um cidadão ideal. Mas que cidadão é este que somente fica no genérico? Numa teoria vaga sem bases concretas e reais advindas de complexos e múltiplos problemas e contextos no qual a escola está inserida? Tem algo de errado nessa história. Claro que seria impossível traduzir as individualidades dos alunos e das escolas em um documento prescrito oficialmente. Mas, porque isso não é dito? Como a professora mencionou, há muito "espaço" nas estrelinhas de um documento. Porque há essa grande distância entre aluno coletivo, genérico e aluno individual? Praticamente todos os discursos ideológicos, que se pautam em políticas públicas para serem legitimados, considera este aluno genérico. Temos, por exemplo, discurso como: educação para todos, educação para a cidadania, educação para vencer etc. Somente quem está em sala de aula sabe do peso desta pergunta: que aluno é este que o currículo oficial considera e idealiza para a educação?   
Relações de poder em qualquer discurso. 
Confesso que o termo “relações de poder” quando relacionado ao currículo soava para mim como algo muito pejorativo, ou seja, a concepção de "poder" era algo muito forte para ser utilizado no campo do currículo. No entanto, comecei a perceber que o poder é inerente às relações humanas. As relações de poder permeiam os três tipos de currículo: oficial, vivido e oculto. No oficial, temos inúmeras influencias de comunidades epistêmicas, ou seja, pessoas que influenciam na implementação e execução de políticas curriculares, inclusive na produção de conhecimentos relativos às disciplinas. No currículo vivido, deparamos com as particularidades da escola. Sua micro-política administrativa, seu projeto político pedagógico, sua filosofia, relações com a comunidade etc.  Também nas salas de aula as relações de poder acontecem devido à postura política que o professor assume, principalmente no gerenciamento de conflitos entre aluno-aluno, aluno-professor e aluno-instituição. 
Currículo como desvelamento de realidades; metáfora de uma cebola que não possui um caroço. Currículo como práxis: prática, teoria e prática. Bem interessante esta metáfora. Uma realidade desvendada que não possui um fim em si mesma. Parece que quanto mais a realidade escolar é desvendada, mais esta "cebola" cresce. 
Currículo no cotidiano escolar construindo significações próprias de seu contexto. É possível construir uma homogeneidade na ideologia do currículo? 
O currículo vivido propicia a construção de inúmeras significações  dentro de um contexto sócio-cultural, que neste caso, será o cotidiano escolar. Uma homogeneidade no currículo deve ser vista dependendo da referencia e do foco analisado. O currículo prescrito oficialmente traz uma ideologia homogênea de cultura. No entanto, este currículo deve estar ciente que vai se tornar heterogêneo no currículo vivido e oculto. Dessa forma, o oficial deve reconhecer que vai haver essa transposição. E porque não dar mais subsídios e fundamentos para que essa transposição ocorra? Para que isso aconteça, o prescrito oficial não deve se preocupar somente em impor uma ideologia de cultura homogênea, mas de reconhecer e subsidiar a construção de uma heterogeneidade cultural desdobrada pelo prescrito oficial.  
Questões da formação humana em suas diversas dimensões. Valores, formação da “alma” do amor, do respeito. O que é provisório e o que é permanente?
Tais questões estão no campo do currículo vivido e oculto. Ou seja,  depende somente da práxis docente quando subjetiva o conhecimento. Porque o currículo prescrito oficialmente não considera a formação humana em sua essência e totalidade, resgatando a importância do papel do professor na mesma não ficando preso a discursos ideológicos superficiais? Na atividade docente, as relações humanas de respeito, de valores, parecem estar subentendidas na prática docente. Dessa forma, a educação possui um significado mais amplo, como que de "catequização", não no sentido religioso do termo, mas no sentido da educação para a vida. Uma indagação pertinente da professora foi: o que fica de nós professores para os alunos? Como professor de Física, pergunto: será que é somente uma fórmula de física decorada?  


Fiquem a vontade para fazer apontamentos, críticas e sugestões, principalmente a Professora Rita. Abraços!  

Um comentário:

  1. Você conseguiu atentar para todos os conceitos de currículo que foram postos e deixar questionamentos pertinentes ao tema principalmente a relação entre o professor e o currículo, seu papel e sua função, Muito bom...

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